O pecuarista Thiago Companholi usa o capim híbrido cayana para alimentar 1,5 mil cabeças de gado em Amambai (MS) O pecuarista Thiago Companholi usa o capim híbrido cayana para alimentar 1,5 mil cabeças de gado em Amambai (MS) Foto: Arquivo pessoal

O que é o capim híbrido, cultivado no Brasil e que tem impacto na melhoria do rebanho bovino Destaque

Escrito por  Set 13, 2022

Do G1-  Desde 2014, quando as áreas com braquiárias híbridas no Brasil ainda eram quase inexistentes, o cultivo desse tipo de capim, que promete melhorar os resultados do rebanho bovino, aumentou 15 vezes. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a participação dos híbridos em relação ao capim marandu, o mais utilizado na pecuária nacional, era de 0,8%. Agora em 2022, está em quase 12%.


Esse crescimento tem participação decisiva de duas empresas da região de Ribeirão Preto, que abastecem o país todo com sementes que prometem entregar engorda mais rápida e maior número de animais por hectare.

Os capins híbridos são resultado de cruzamentos de indivíduos de variedades diferentes até que seja possível obter plantas com rendimentos cada vez melhores – eles chegam a apresentar até 70% a mais de proteína em relação aos capins convencionais.

A Barenbrug do Brasil mantém um programa de melhoramento genético focado em braquiárias. Com escritório em Ribeirão Preto (SP), montou em Guaíra (SP) a unidade de produção, a única do gênero no país a combinar capacidade de operação, estrutura e processos industriais especialmente direcionados ao tratamento de sementes.

A empresa, fundada em 2012, aposta em equipamentos importados da Dinamarca para processar forrageiras tropicais incorporando tecnologias de empresas do Grupo Barenbrug nos Estados Unidos, no Canadá, na Holanda, na Nova Zelândia e na Austrália. Um dos objetivos, com isso, é combinar métodos tradicionais de melhoramento genético com os mais recentes avanços em biotecnologia.

Segundo Gustavo Aguiar, gerente de marketing da Barenbrug do Brasil, o desenvolvimento de braquiárias híbridas busca suprir necessidades que vieram junto com a evolução da pecuária brasileira.

Aguiar explica que, na comparação com a década de 1980, quando foi lançado o marandu, também conhecido como braquiarão, originário do continente africano, o salto tecnológico na criação bovina foi considerável, o que exigiu capins mais produtivos e adaptados a condições climáticas diversas, como secas severas.

O próprio marandu é usado para o cruzamento com outras variedades, por causa de sua capacidade de enraizamento e consequente tolerância à estiagem, já que consegue buscar água em profundidades maiores.

    “A atividade pecuária mudou muito. Mudou o pecuarista, a genética bovina. Mas só agora as plantas forrageiras estão começando a ter um recurso melhor de modificação e acompanhamento das tecnologias. Não faz sentido pensar a pecuária moderna sem as forrageiras híbridas”, afirma Aguiar, que faz um paralelo com o mercado do milho.

Ele lembra que, quando a produção do grão começou a se consolidar no Brasil, as variedades ainda eram crioulas, mais puras, só que menos produtivas. “Hoje, já não é possível pensar a produção de milho no Brasil sem os híbridos”.

Para desenvolver uma variedade híbrida de braquiária, desde os primeiros experimentos até a chegada ao mercado, são necessários cerca de dez anos, segundo Aguiar. Às vezes, o período chega a 12, 15 anos.
O pecuarista Thiago Companholi usa o capim híbrido cayana para alimentar 1,5 mil cabeças de gado em Amambai (MS) — Foto: Arquivo pessoal

O pecuarista Thiago Companholi usa o capim híbrido cayana para alimentar 1,5 mil cabeças de gado em Amambai (MS) — Foto: Arquivo pessoal

A Barenbrug tem três variedades no catálogo: a mulato II, a sabiá e a cayana. Esta última fez parte de uma pesquisa recente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Durante dois anos, foi usada em experimentos comparativos com o marandu e apresentou rendimento 42% maior na engorda dos animais.

Em Amambai (MS), o pecuarista Thiago Companholi tem 1,5 mil cabeças de gado nelore e de meio-sangue angus para recria e engorda, em 500 hectares cultivados com braquiárias híbridas adquiridas da Barenbrug. A transição começou em 2019. Primeiro, com a mulato II. Depois, veio a cayana.

Segundo Companholi, por terem maior potencial produtivo, elas são mais exigentes em relação ao solo. “O potencial produtivo de folha e rebrota depende de como você adubou a terra, quais correções foram feitas. Mas tem que estar sempre com o solo com média ou alta fertilidade”.

Brasil e exterior

Outra empresa que se destaca no cenário nacional, e também no mercado internacional, é a Wolf Sementes, que fica em Ribeirão Preto, em uma área de 9,8 mil metros quadrados. No catálogo de produtos, estão fertilizantes, leguminosas e a braquiária híbrida mavuno, resultado de 20 anos de pesquisa, sendo dez deles em experimentos no campo.

De acordo com Edson José de Castro Júnior, coordenador técnico da Wolf, o híbrido foi obtido de um cruzamento entre o marandu e a braquiária ruziziensis, também de origem africana, bastante indicada para recria e engorda, o que permitiu, segundo ele, aliar tecnologia com sustentabilidade.

Castro Júnior diz que, com o mavuno, foi observado, em pesquisas conduzidas pela empresa, um aumento de 50% no número de animais por hectare e nas taxas de engorda dos animais em relação aos capins convencionais.

Dados da Wolf apontam que 20 mil produtores rurais, em todos os estados brasileiros, utilizam este capim híbrido. Mas a demanda vem aumentando - na safra 2021/22, o aumento das vendas foi de 82%. Tanto que a empresa está dobrando o número de pontos de comercialização de 500 para mil já nesta temporada, em todo o território nacional. O produto também é exportado, para mais de 75 países.

    “Os híbridos, em geral, vêm para trazer uma pecuária mais sustentável. Você tem mais produtividade e mais qualidade em relação às cultivares comuns. Assim como a soja e o milho, em que antigamente eram plantados e colhidos materiais mais simples, a pecuária hoje está passando pelo mesmo processo. Os materiais mais comuns vão ser substituídos por pastagens mais produtivas”, explica Carlos Alberto Cazerta, gerente nacional de vendas da Wolf.

Outro benefício, na visão dele, é que os capins híbridos poderão ajudar na recuperação de pastagens degradadas, que correspondem a cerca de 50% dos 180 milhões de hectares destinados à criação de gado no país.

Embrapa

No setor público, as pesquisas para o desenvolvimento de variedades híbridas não param na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa. A empresa tem o híbrido ypyporã, que, em tupi-guarani, carrega o significado de “belo começo” e foi liberado comercialmente após 13 anos de estudos.

A variedade surgiu em Campo Grande (MS), tendo se destacado entre outras 1,5 mil variedades híbridas, por características como resistência a pragas, principalmente as cigarrinhas, valor nutricional, em média 13% maior que o marandu, e ganho de peso diário, em média 40% acima do marandu.

Segundo Valéria Pacheco, especialista em pastagem da Embrapa, as pesquisas demonstraram que o capim convencional cresce até mais que o ypyporã, mas a eficiência maior deste está na qualidade nutricional e na melhor digestibilidade que ele proporciona.

Do G1 - *Colaborou Lucas Faleiros

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