O pesquisador da Embrapa Cerrados, Robelio Leandro Marchão, explica que os solos arenosos podem ter bom desempenho na agricultura sim. Para a utilização sustentável faz-se necessário a adoção de práticas de conservação como o cuidado do solo por meio de técnicas de manejo, utilização do sistema de plantio direto, integração lavoura-pecuária, rotação de culturas, adubação verde (adubo orgânico), dentre outros.
Confira a entrevista completa:
Portal Agrolink: para que tipo de atividades agrícolas os solos arenosos têm melhor desempenho?
Robelio: os solos arenosos sempre foram considerados de baixa aptidão agrícola e eram de pouca relevância para a agricultura. Historicamente foram utilizados predominantemente com pastagens extensivas nativas ou cultivadas, reflorestamento ou mesmo como áreas de preservação, inaptas ao uso agropecuário. Este quadro tem mudado em função da necessidade de áreas para expansão e em razão dos avanços nos sistemas de produção e nas práticas agrícolas. Nessas áreas são preconizados sistemas de produção considerados mais sustentáveis como o Sistema Plantio Direto (SPD), sistemas integrados de produção, como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) que permitem maior produção de matéria orgânica no solo, propiciando maior disponibilidade de nutrientes e melhor retenção de água. Há também em algumas regiões, grande potencial para uso da agricultura irrigada.
Portal Agrolink: como se observa o desempenho de solos arenosos em relação à produtividade?
Robelio: em razão dos baixos teores de argila e matéria orgânica, geralmente apresentam baixa capacidade de retenção de nutrientes e de água. Por isso esses solos apresentam menor potencial produtivo e são mais susceptíveis à degradação e à perda da capacidade produtiva. Geralmente apresentam menor potencial quando comparados aos de textura mais argilosa, em condições ambientais semelhantes.
Portal Agrolink: o que há de estudos na área?
Robelio: vários projetos de pesquisa da Embrapa acumularam uma grande quantidade de conhecimento sobre a ocorrência e o funcionamento de solos arenosos no Brasil. Desde projetos que estudaram sua gênese (Fragissolos e Arenossolos) até projetos envolvendo alternativas de manejo sustentável para pecuária e agricultura. Estes estudos mostraram uma grande variabilidade espacial evidenciando diferenças regionais e, dentro de cada região, características do solo que interferem diretamente na capacidade produtiva destes solos. Apesar dos avanços já obtidos, ainda faltam de critérios técnicos que possam subsidiar ações para a correta utilização e manejo desses solos. Por exemplo, observa-se uma insuficiência de critérios para utilização sustentável dos solos de textura leve, que hoje não recebem nem seguro agrícola e nem financiamento agrícola, no entanto estão sendo largamente utilizados e, neste particular, os produtores se sentem desamparados. Ainda no nível do planejamento setorial, os critérios de avaliação da aptidão agrícola dos solos de textura leve devem ser revistos a fim de que se possa aperfeiçoar esta ferramenta, considerando a variabilidade dos atributos físicos, químicos e biológicos. Ou seja, para todos os níveis de gestão e planejamento, há que se agregar critérios técnicos baseados em conhecimentos científicos para se avaliar a sustentabilidade da expansão e da intensificação agropecuária sobre os solos de textura leve.
Portal Agrolink: este tipo de solo pode auxiliar na expansão da atividade agrícola no país, com abertura de novas áreas?
Robelio: existe uma área muito grande ocupada com solos considerados de textura "leve" no Brasil, alcançando 8% do território nacional. No bioma Cerrado a proporção é de 15%. Também podemos citar os solos arenosos das regiões conhecidas como Matopiba (em referência aos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) e Sealba (tabuleiros costeiros dos estados de Sergipe, Alagoas e Bahia), onde os solos arenosos são comuns. Somente em Mato Grosso do Sul estima-se uma área superior a 6 milhões de hectares ocupada com solos arenosos com possibilidade de intensificar a produção de forma sustentável, graças a oferta de tecnologias apropriadas a esse ambiente. Essas regiões são exemplos de como a expansão ordenada da atividade agrícola pode incorporar áreas já abertas ao sistema produtivo e alavancar o agronegócio.
Por: Agrolink -Eliza Maliszewski