Inverno pede cuidados especiais com a alimentação bovina Divulgação.

Inverno pede cuidados especiais com a alimentação bovina Destaque

Escrito por  Jun 08, 2019

Durante o inverno, as pastagens ficam mais escassas e o gado deve ter uma complementação na alimentação. Assim, a chegada desta estação pede cuidados especiais com a alimentação bovina.

No inverno, ocorre uma queda no desempenho dos bovinos devido ao baixo valor nutricional da pastagem. Segundo a zootecnista e pesquisadora da Estação Experimental de Lages, da Epagri, Ângela Fonseca Rech, o baixo nível de proteína é um fator limitante ao crescimento dos microrganismos ruminais o que causa uma lenta degradação da forragem ingerida, maior tempo de retenção do alimento no rúmen e menor consumo de nutrientes pelos animais.

Ambiente ruminal

O retículo-rúmen representa cerca de 85% do estômago de um bovino adulto e com uma capacidade de até 200 litros. A temperatura interna é constante (entre 39°C e 40°C) e o valor pH mantido entre 4,5 e 7 (valor médio de 6) graças à ingestão de grandes quantidades de saliva, principalmente durante o consumo de alimentos fibrosos. O meio é anaeróbico (pouca ou total ausência de oxigênio) e os nutrientes são adicionados em função do comportamento de pastejo, alternado com a ruminação, principal processo responsável pela redução do tamanho das partículas ingeridas.

Um movimento regular e constante do retículo-rúmen mistura essas partículas recém-ingeridas com o conteúdo ruminal e direciona as menores do que 1mm para o orifício do retículo-omasal, seguindo sua trajetória pelo trato digestivo. A concentração dos produtos da digestão no retículo-rúmen, principalmente os ácidos graxos voláteis, é mantida em níveis constantes, através do processo contínuo de absorção pelas paredes ruminais.

Estas condições ambientais são extremamente favoráveis para uma enorme proliferação de microrganismos (bactérias, protozoários e fungos), os quais permitem aos ruminantes utilizarem a fração não-solúvel (fibras) das pastagens. Em particular, o grupo das bactérias celulolíticas é quem confere aos ruminantes a capacidade de sobreviverem em dietas ricas em fibra.

Entretanto, estas bactérias são sensíveis à ausência de nitrogênio (níveis de amônia no líquido ruminal não deveria estar abaixo de 150mg/l) ou alterações no pH ruminal (pH abaixo de 6,2 podem limitar seriamente seu crescimento). O primeiro caso é consequência da queda no teor de PB na pastagem durante a seca. Já o segundo caso é consequência direta da presença do amido em rações para suplementação. Se estes dois aspectos não são analisados cuidadosamente, as respostas esperadas com a suplementação podem ser desastrosas.

Suplementação

Dessa forma, a proteína bruta é um fator limitante da pastagem nessa época do ano. Uma das alternativas é fornecer uma suplementação proteica aos animais, associada ao fornecimento de pastagens nativas, para aproveitar a pastagem do inverno. Essa suplementação, mesmo em pastagem de baixa qualidade, melhora a eficiência de fermentação e a velocidade de digestão ruminal, aumentando o consumo da pastagem.

A suplementação pode ser feita com vários produtos, como milho, farelo de soja, ureia. Lembrando que as bactérias do rúmen dos bovinos precisam de amônia para crescer, o que será fornecido via ureia. Além disso, as bactérias precisam de esqueleto carbônico, fornecido via carboidrato e proteína verdadeira.

O objetivo principal desse manejo é melhorar o desempenho dos animais, sendo que cada categoria de bovinos possui suas próprias demandas. No caso da vaca de cria, o objetivo é aumentar sua taxa de natalidade e a taxa de concepção das primíparas. Para isso, fornece-se nutrientes para os microrganismos ruminais, para que eles possam crescer, aumentando o consumo e a digestibilidade da matéria seca.

Além da suplementação, uma outra forma de melhorar a alimentação dos bovinos no inverno é o manejo da propriedade com o uso de pastejo rotacionado o ano inteiro, preservando, dessa forma, a pastagem para esse período do ano.

Como suplementar

De todos os nutrientes, o nitrogênio é o mais limitante e consequentementeo de maior prioridade para suplementação. Sua presença na dieta do animal em pastejo é vital para manter o crescimento normal das bactérias ruminais, e a estabilidade desta população de bactérias no rúmen afeta diretamente a digestibilidade e o consumo.

Dessa forma, pode-se dizer que para a estação de seca, quando os teores de PB das pastagem estão abaixo de 7% (base na MS), o primeiro objetivo da suplementação seria atender à demanda das bactérias ruminais por nitrogênio. Essas bactérias, fortalecidas, serão capazes de extrair energia da pastagem ingerida pelo animal, através do processo de digestão.

Essa situação é alcançada usando-se de fontes proteicas de alta degradabilidade no rúmen (alto valor de proteína degradada no rúmen, PDR), tais como a mistura ureia + sulfato de amônio (85% e 15%, respectivamente). A resposta animal esperada seria em termos de mantença ou leve ganho de peso vivo (até 200 g/an./dia), dependendo da disponibilidade da pastagem.

O suplemento a ser utilizado é essencialmente proteico, e popularmente conhecido como “Sal Proteico”. Isto porque na sua composição, o sal comum pode participar de 10%-30% (base matéria fresca), e serve para manter o consumo entre 600 e 300 g/an./dia. É uma alternativa de baixo custo para suplementação alimentar do gado na época da seca.

A substituição do sal comum e a inclusão neste suplemento de uma fonte energética (milho, sorgo, aveia) pode aumentar o desempenho animal para até 600 g/an./dia.

Novamente, a disponibilidade da pastagem é um fator essencial para se alcançar esse desempenho, associado com o consumo diário do suplemento, que pode variar de 0,3%-1,0% do peso vivo. Este suplemento é conhecido popularmente como “Mistura Múltipla”.

Ao contrário do sal proteico, a mistura múltipla pode também ser utilizada durante o período das chuvas, se o objetivo for alcançar ganhos acima do potencial da pastagem (aproximadamente 600 g/an./dia). Nessa época do ano, a disponibilidade de nitrogênio para as bactérias ruminais, normalmente não é um fator limitante, e a energia passa a ser uma prioridade de suplementação.

Se no período da seca o objetivo da suplementação proteica é atender as bactérias ruminais, nas águas, esta deverá atender diretamente o animal, através de fontes proteicas de baixa degradabilidade (baixo valor PDR). Exemplos de fontes proteicas de baixa degradabilidade são: farinha de carne, farinha de peixe, farelo de algodão etc.

Por fim, deve-se lembrar que os suplementos concentrados, em geral, são caros e o seu uso com ruminantes não é tão eficiente, em termos metabólicos, como o são com suínos e aves, além de competir com humanos.

Entretanto, se considerar que a pastagem seria mal utilizada (ausência de nutrientes) ou mesmo perdida (excesso de palhada ao final da seca) pela falta de um suplemento, pode-se argumentar que os ruminantes podem também vir a ser um eficiente utilizador do mesmo.

É essencial que a pesquisa indique curvas de resposta à suplementação, mas também é extremamente importante que as bases de manejo de uma pastagem (adubação e carga animal) sejam mais praticadas pelo pecuarista.

 

 

 

Fonte: Milk Point.

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