Estudantes ingressam no Agro 4.0 Destaque

Escrito por  Dez 09, 2019

Liderados pelo chefe geral do centro de pesquisas localizado na cidade de Juiz de Fora, no Estado de Minas Gerais, pesquisadores e colaboradores, com apoio da iniciativa privada, rodaram pelo Brasil, de norte a sul, de leste a oeste, motivando professores e estudantes universitários a aceitarem o desafio de fazerem uma imersão no mundo da produção de leite, e encontrarem soluções criativas para os muitos problemas que limitam o desenvolvimento, tanto em qualidade, como em quantidade, da cadeia produtiva do leite.

O setor leiteiro mundial apresenta números que impressionam: 133 milhões de propriedades mantêm 363 milhões de cabeças com aptidão leiteira, ocupando 20% das terras agrícolas do Planeta. Mais de 600 milhões de pessoas vivem em propriedades leiteiras.

O leite é o 3º produto agropecuário em produção total e o 1º em valor monetário, fornecendo 5% da energia, 10% da proteína e 9% da gordura consumida em nível global, segundo a Global Dairy Platform (2017).

Os maiores produtores são, pela ordem: União Européia, Estados Unidos da América, Índia, China, Brasil, Rússia, Nova Zelândia, Turquia,Paquistão e México, representando 76% do volume de leite mundial em 2016

A produção de leite no Brasil se iniciou no século XVI, tendo permanecido em segundo plano, como suporte às demais atividades econômicas brasileiras, até meados do século XX, quando passou a merecer atenção crescente. Foi só no início dos anos 2000, no entanto, que a produção leiteira passou a crescer com velocidade, tanto em produção quanto em produtividade, tendo passado de 19,2 bilhões de litros em 2000 para 33,5 bilhões em 2017 (IBGE 2018), crescimento de 74% no período.

Apesar desses números impressionantes, o Brasil tem, pela extensão territorial, pela localização geográfica e pela competência dos brasileiros, a responsabilidade de suprir, gradativamente mais, as necessidades alimentares de um contingente crescente, mundo afora.

E para que isso aconteça, precisa se debruçar em soluções que aumentem nossa competitividade no cenário mundial.

E qualquer comprador, seja a dona de casa no interior do país, ou uma grande empresa de importação na China, ao decidir adquirir alguma coisa, avalia principalmente dois itens: qualidade e preço.

Ideas for Milk: Vacathon 2019

É exatamente para vencer esse desafio de produzir mais e melhor, que estudantes de 25 instituições de ensino de todos os cantos do país vieram para Juiz de Fora e Coronel Pacheco, em Minas Gerais, para participarem da terceira edição do Vacathon, que é um dos maiores eventos do país, envolvendo soluções digitais para o agronegócio brasileiro. formaram 20 times liderados por professores e mentores que, dormindo (quando sobrava tempo) em barracas de camping nos salões disponibilizados, e, durante cinco dias vivenciando a realidade da cadeia do leite, desde a fazenda de produção, até as indústrias de transformação, os entusiasmados estudantes e seus professores apresentaram, em tempo recorde, soluções que vão se transformar em instrumentos de aumento de eficiência em todas as etapas da cadeia produtiva como todos desejam e o país necessita.

O Vacathon faz parte do Ideas for Milk, evento criado pela Embrapa com a proposta de fomentar um ecossistema, reunindo empresas, universidades, pesquisa agropecuária e setor produtivo. O objetivo é que os estudantes tenham contato com a atividade rural e criem startups voltadas para os problemas da produção leiteira. Segundo o chefe de TI, Bruno Carvalho, as startups voltadas para o agronegócio (agtechs) chamam atenção de investidores, pois esse é um mercado de baixa concorrência, que gera muita riqueza.

Ao todo, foram 120 participantes entre estudantes e professores, que receberam mentoria de 52 especialistas da Embrapa e instituições parceiras. As propostas foram avaliadas por 97 pessoas, entre técnicos da Embrapa e outros representantes da cadeia produtiva do leite, que acompanharam as apresentações finais. O trabalho de organização e realização do evento reuniu 94 pessoas, entre empregados da unidade, bolsistas, colaboradores e a equipe de mirins.

A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) apresentou um projeto que propõe, através de imagens de satélites, devidamente interpretadas, informar ao produtor de leite, em qualquer lugar do país, com base nas coordenadas geográficas da área de pastagem, a quantidade e a qualidade do pasto disponível, de modo a facilitar os cálculos de lotação de animais em cada área de pasto e, principalmente a necessidade de suplementação do rebanho, que é a parte mais cara no custo de produção de leite, proporcionando um pastejo inteligente, através de um aplicativo que pode reduzir os custos em até 30%.

Na mesma linha de foco na pastagem, a Instituto de Laticínios Cândido Tostes e o Instituto Federal, ambos de Juiz de Fora, apresentaram a UaiPiquete, um sistema que dimensiona e calcula o quanto cada piquete de pastagem vai fornecer para cada animal e por quanto tempo, reduzindo o custo da alimentação no cocho.

O Instituto Federal Sudeste Campus Rio Pomba, de Minas Gerais, apresentou o Pra+, uma plataforma integrada que ajuda no processo da escolha da espécie de capim adequado para cada propriedade, objetivando tomadas de decisões precisas.

A Universidade Federal de Viçosa (UFV) apresentou um protótipo de equipamento cilíndrico, formado de peneiras de metal superpostas, denominado Nutri Solver que separa por tamanhos de partículas, os volumosos destinados à alimentação fornecida às vacas de leite, permitindo que a dieta seja montada de forma a otimizar o trabalho do estômago, melhorando, assim, a eficiência nutricional, o que também reduz custos de produção, aumentando a margem de lucro dos produtores.

A Universidade Estadual de Goiás (UEG), apresentou o Nutrimilk, um aplicativo que otimiza o uso de concentrado, considerando a concentração de energia e proteína de cada produto, bem como seus respectivos custos, a fim de reduzir custos e aumentar a margem de lucro em rebanhos de pequenas e médias propriedades.

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), apresentou o aplicativo Nutrilac com informações básicas para melhorar a nutrição do rebanho e oferecer bem-estar aos animais.

Não passou despercebido pelos estudantes, nesses cinco dias, a necessidade de cuidar do conforto dos animais. Para isso, o Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora propôs o Brisa um sistema automatizado que, através de sensores, determina a temperatura corporal das vacas e as direciona para áreas de banho e ventilação, para atingirem a temperatura indicada, antes de cada ordenha, otimizando o uso de água e eletricidade para ventilação.

 

Sempre pensando em aumento de eficiência, e, assim, melhorar a renda dos produtores, o Instituto Federal Sudeste, de Juiz de Fora, apresentou o Eletromilk, um sistema de eficiência energética que combina o uso do gás quente, que circula nas serpentinas dos tanques isotérmicos de resfriamento e armazenamento de leite, para aquecer a água a ser utilizada na higienização das tubulações de ordenha, com pré-resfriadores acoplados à tubulação de transporte do leite entre a ordenhadeira e o tanque de resfriamento, reduzindo, assim, a necessidade de energia, tanto para a produção de água quente, quanto para o processo de resfriamento, além de apressar o processo, melhorando a qualidade do leite.

A solução desenvolvida pelas equipes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq) e Instituto Federal de São Paulo, de Piracicaba, com a Milkcup, foi a vencedora da terceira edição do Vacathon. A criação dos estudantes paulistas é uma caneca dotada de sensores eletrônicos para realizar análises de mastite na propriedade em tempo real. Além do protótipo, a proposta prevê um aplicativo que acumule todos os dados ao longo do tempo para manejo assertivo.

Em linha paralela, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), também desenvolveu um dispositivo portátil, denominado Zeitt, que faz análise da qualidade do leite na propriedade.

O Centro Federal de Ensino Tecnológico, de Leopoldina/MG, apresentou o Leitech, que é um aplicativo interligado com sensores de temperatura e medidores de volume do leite que é armazenado no tanque de resfriamento na propriedade do produtor, oferecendo, em tempo real, tanto para o produtor quanto para o laticínio que recepciona a produção, informações precisas, proporcionando mais confiabilidade dos dados, evitando erros humanos, além de permitir melhor planejamento das rotas de coleta, reduzindo custos com frete.

Objetivando organizar o manejo sanitário do rebanho, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apresentou o aplicativo denominado Deleite, destinado ao planejamento e registro da aplicação de vacinas e defensivos, a partir de um protocolo estabelecido.

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), veio com um aplicativo denominado Mammatus, uma plataforma em nuvem que conecta produtores e laticínios. Transforma dados conforme demanda da cadeia e diminui os riscos das operações.

Não ficaram esquecidas as necessidades de aproximação entre produtores, e destes com técnicos e instituições de ensino e pesquisa. Isso fez com que:

O Instituto Federal Sul de Minas, de Muzambinho/MG, defendeu o Cow Service, um aplicativo que conecta produtores rurais aos diversos profissionais do agro para solucionar problemas nas propriedades. O aplicativo utiliza inteligência artificial para facilitar seu uso.

Na mesma linha, a Universidade Federal Rural (Ufersa), de Mossoró/RN, com o seu Cownecta, propõe uma rede social que integre pesquisadores, produtores e indústrias e promova troca de informações de maneira setorizada e organizada.

De forma mais setorizada, a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), através do Geocompost, tem a pretensão de reunir em um mesmo grupo todos os pecuaristas interessados em trocar informações sobre o composto de barn.

A Universidade Federal de Lavras (UFLA) concebeu o Cownect, um aplicativo que conecta produtores aos profissionais da área rural, facilitando a contratação. Ainda oferece indicadores de desempenho dos funcionários e, para aprimoramento destes profissionais, disponibiliza um banco de protocolos, que padroniza as atividades na fazenda.

Visando facilitar o contato direto entre produtores de queijos e consumidores, tanto o Parque Tecnológico de Chapecó (Unochapecó, UFFS, Uceff e Senai/SC) com o Legado do Queijo, um portal de e-commerce destinado a conectar os vendedores de queijo artesanal aos produtores de todo país, quanto a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), campus Betim, através do Uaix–Marketplace inteligente, querem permitir aos produtores de queijos expor seus produtos para venda. Por meio desses aplicativos, o consumidor pode comprar o queijo e conhecer informações sobre o produtor.

A Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), campus Belo Horizonte, ousou ao propor o Muu Bank, o primeiro banco digital da cadeia do leite. Utilizando uma criptomoeda, a bitmuu, que equivale ao valor real de um litro de leite. O produtor poderá antecipar seus recebíveis e ganhar em bitmuu.

O chefe-geral da unidade da Embrapa em Juiz de Fora, pesquisador Paulo do Carmo Martins, reconhece que os trabalhos dos estudantes têm ficado cada vez mais criativos e próximos da realidade da pecuária de leite nacional.

EMBRAPA

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